domingo, 27 de março de 2011


É uma desordem dos tempos. Simples assim: hoje nós seríamos mais felizes no que nos faltou ontem. Mas o agora é nosso passado próximo que ainda não enxergamos, indeterminado. Eu não fui tão errada, nós não estamos tão errados, não escolhemos o tempo errado, o tempo também nos escolhe. Qualquer tempo é um início a menos que se deseje seu fim. Nós poderíamos até esquecer tudo isso que passou e eu ficava aqui brincando de ter treze anos e voltar a descobrir, lentamente, todos os seus traços que perseguiram os meus sonhos adolescentes. Então eu assistia todo esse filme recomeçar em algum lugar desconhecido entre seus olhos e o cinema que existe dentro destes - os meus. Perdoe-me se não escrevo nossa história como você acha que você teria escrito. Interpretar é isso, é acreditar. Você não entende porque acreditei em você, mas eu não acreditava era em mim. Eu te interpretei e fui culpada por essa inocência. Mas eu tinha mesma que ter te perdido completamente para não ter que passar a vida inteira me cobrando que te perdi por pouco. Eu não fui forte. Forte como agora, como um pouco antes de agora, exatamente no instante que você me procurou. Depois daquele instante, meu corpo se desgarrou de um chão onde eu tinha me prendido nos últimos anos. Prendido tanto que já desconhecia a possibilidade de cortar minhas raízes dele. Eu quase voei. As sensações que me seguiram depois já foram bem diferentes - algumas foram carregadas de uma felicidade-infantil, outras vezes um pouco mais escuras e com uma dose moderada de tristeza justa; mas foram todas descendentes daquele mesmo instante -. Eu sei que você tem um medo escondido de me machucar, mas esquece que eu te entendo perfeitamente. Eu me desespero no seu equilíbrio-irresponsável. Nossa compreensão abastece minha capacidade de enxergar, mesmo tão distante, as respostas na profundeza de seus olhos. Se tirassem música de nossas conversas daria uma melodia suave. E o meu desejo de concluir nosso passado a escuta, em silêncio.Agora, a minha sede de dias alegres disputa com essa distância cretina e uma razão inocente que você acha que afastam nossos caminhos. E eu fico aqui tentando lhe enviar poesias por nuvens e decifrar os seus próximos passos - que são leves como a sua voz ao telefone - enquanto o destino, senhor dos amores, brinca de fazer o tempo zombar de sentimentos.
Eu queria escrever uma saudade alegre. Saudade de quando você ainda era uma ilusão boa. Escrever do seu sorriso que me matava. Eu queria escrever da fidelidade dos meus olhos a sombra dos seus movimentos. Queria poder escrever um livro inteiro com seus movimentos. Escrever uma saudade. Mas tocar nestes assuntos é beirar um precipício alto. Retornar na sua lembrança é como cair de cabeça.Eu devo ter começado a te amar assistindo a algum destes filmes de romance que agente vê na tv, antes mesmo de te conhecer. Depois que aconteceu passei o resto do tempo descobrindo os motivos. Um dia você acabou ficando real demais para mim. Então eu fico inventando essas lembranças adolescentes desenhadas nas linhas destes textos para que o cinema não se apague, não perca seu encanto e eu não esqueça das cenas que eu mais gostei. Com o tempo eu acabei aprendendo que você não é o meu personagem-perfeito, mas foi o que existiu de mais próximo. Depois que eu perdi a sua ilusão eu acho que passei a gostar um pouco menos de cinema. E tenho desapego por romances. E um verdadeiro desprezo por contos de fadas. Eu podia ficar aqui escrevendo destas histórias que passaram terra-do-nunca que existiu dentro de mim todos aqueles anos. Mas eu tenho uma vida real e às vezes temo que pensem que eu ainda acredito em romance de filme besta. Quando eu falo de você eu falo mesmo do meu lado mais besta .O meu lado impróprio a gostar de você de forma simples como em vida real. Falar de você é voltar a acreditar naquelas coisas que eu passo o tempo inteiro fingindo que não acredito mais. Falar de você é expor aqueles segredos que a gente guarda só para gente a vida inteira. É me dar chance de voltar lembrar das situações felizes que eu ainda não criei para nós dois. Falar de você é mais do que um despertar de lembranças irreais. É correr um risco assustador de ser bem entendido. Falar de você é vencer o meu medo de escrever.

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