quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Segredos da Madrugada


Ela sentou na calçada e observou a chuva cair. Não se importou em buscar respostas ou ouvir as sirenes, ela sabia que de alguma forma, tudo faria sentido. Ela contemplou os aromas da madrugada. Inspirou a fumaça, as cores, os sabores. Absorveu cada detalhe que os faróis passageiros a permitiam. Fechou seus olhos e inclinou sua cabeça levemente para trás, sentindo as gotas frias escorrerem pelo seu rosto. Implorou secretamente por um toque de lábios, um sussurro inesperado, mas não encontrou nada. Ergueu seu corpo lentamente e ouviu as conversas e comentários maliciosos. Sorriu. Apoiou-se em um poste e olhou para os seus novos amigos, jogando um beijo para o ar. Então, ouviu os sussurros, sentiu o toque, e se afastou. Pôde sentir as faces confusas atrás de si, fazendo-a gargalhar. Caminhou pela escuridão seguindo os vagalumes que a convidavam tentadoramente. Cantou suas próprias melodias e torceu a barra do seu casaco encharcado. Ouviu histórias sobre fadas que fumavam narguillé e dançou da forma mais encantadora possível com elas. Cumprimentou a lua brilhante e viu aquele nome escrito no ar. Uma espada afiada atingiu o seu peito de imediato, fazendo-a correr o mais rápido que pôde. Não encontrou as fadas, a lua, os vagalumes, o narguillé. Lutou contra os instintos que a faziam cada vez mais desejá-lo, mas eles eram maiores. Os rostos ao seu redor gargalhavam e ela estremecia, apavorada. Então, sua respiração desacelerou. Suas pernas cansadas a fizeram parar. Olhou em volta, não encontrou nada. Ela estava sozinha, ela estava em paz, eu estava em casa.

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